sábado, 25 de junho de 2011

O preclaro Miguel Castelo-Branco do blogue Combustões já traçou o prognóstico.

 

«Os antropólogos andam inebriados com a descoberta nos confins da selva amazónica de uma comunidade índia da qual havia apenas vagas referências. Não compreendo a excitação nem a alegria. A selva amazónica tem sido tão maltratada pelos entusiastas do "crescimento económico", do "business", do "desenvolvimento" e do "progresso" que dentro de décadas, quando a última árvore for sacrificada nos altares do capitalismo desmiolado, aquele imenso país do tamanho de um continente estará cheio, do Atlântico aos contrafortes dos Andes, de gente ranhosa, maltrapilha, violenta e ébria habitando favelas de zinco a perder de vista. É o progresso. Estes desgraçados índios que até hoje falavam com os deuses e tinham por interlocutores as estrelas, os planetas, os rios os bosques, devem andar excitadíssimos com a expectativa de passarem a usar calças e camisa, de ascenderem a cidadãos da república brasileira e prestar culto à religião democrática. Podem ter a certeza que, passada a vaga dos antropólogos - que os estudarão como a uma comunidade de orangotangos - virão os pastores evangélicos, os homens do recenseamento, os cobradores de impostos, os recrutadores, as caravanas dos demagogos políticos e até os turistas sexuais. O mundo moderno é uma má-rá-vi-lha.»  

Texto de Miguel Castelo-Branco, autor do excelente Combustões.